MONTE DA SENHORA DO CASTELO – UMA BÔLHA DE AMOR

SOLITÁRIOS PASTORES DE SORRISOS INQUIETOS DE BONDADE CORRENDO-LHES A SEIVA DAS PAISAGENS NO FULGOR DAS SUAS VEIAS MAS QUANDO ANOITECIA E A SERRA ERA UM DESERTO ELES SEGUIAM O SEU CAMINHO
A penumbra da madrugada esboçava uma trémula luz , era o luar que lembrava a luz do dia e se escoava por entre as frechas das paredes e das telhas do curral como um nevoeiro pálido de mágoas . É Darei uma pequenina aldeia encolhida entre a penedia . Eram três horas matinais de uma noite de lua cheia , de um rosto enorme e luminoso com um sorriso misterioso sobre a aldeia que ainda dormia de um mês de Julho que se adivinhava escaldante ,em breve as lágrimas da noite lhe dissiparia o manto de penumbra . Zé das Trindades apressava-se , e o seu andar era música escrita na pauta de uma branca solidão de madrugada . Cedo queria chegar ao monte da Senhora do Castelo . Zé das Trindades despinchava o caravelho do curral das borregas a seguir o das ovelhas e mais tarde o das cabras ; era um mar de gado vigiado sob o olhar atento dos seus três cães , o Mondego o Fiel e o Verdugo , seus fieis companheiros , cúmplices e partilhantes das suas emoções , seus olhos e os seus ouvidos ; alegravam-se com a alegria do dono e entristeciam-se com a sua dores e angustias .Zeladores da segurança do rebanho e do pastor seu dono ante o ataque inesperado de algum lobo faminto . Rasgando a névoa densa em passo apressado , calcorreando veredas estreitas converge para o monte da Senhora do Castelo em cujo sopé vicejam vales de ervas verdejantes e pequenos lagos de água que ainda resistem , mantendo-a como reserva da chuvas de Inverno . Maria Rosa apascentava o seu pequeno rebanho que era o seu pensamento e o seu pensamento eram todas as sensações sentidas . Pensava com os olhos , com os ouvidos e com a boca . Pensava uma flor ou a erva do pasto quando a via ou cheirava , sabia o sentido e o gosto de um fruto silvestre quando o comia . Era do lugarejo do Coval paraíso circundado de outeiros verdes , onde o sol casa com as águas murmurosas do rio . Zé das Trindades passou junto , tão juntinho que as ovelhas se misturaram . E naquele momento trocaram-se olhares de uma expressão imorredoira e o coração lhe deu um baque , começou a pensar também com o coração . Era Maria Rosa uma moçoila de faces rosadas muito graciosa . Seus mimosos dezoito anos de lei faziam dela uma moça de delicado reparo , mulher perfeita em sonho e realidade.
(continua no próximo número)